sábado, 27 de outubro de 2007

Agora perdi a ligação, aquele elo inexplicável quebrou-se, passei a semana com aquele aperto no peito, aquele "bad feeling" que ninguém consegue perceber bem o que é. O mau pressentimento não foi em vão, quando pensava que me tinha recomposto da primeira decepção logo veio outra. Mas a vida é mesmo assim, é o preço que se paga por estar vivo, a balança não pende para um lado apenas. É com um peso enorme no peito que escrevo isto, o que eu perdi não vai voltar nunca mais, e era precioso. Só espero que ela saiba de alguma maneira que eu a amo e que nunca a vou esquecer.
Nunca me poderei esquecer da maneira como se aninhava no meu colo, do calor que me aquecia nas noites frias, a única companhia que tinha nas minhas longas noites de insónia. A maneira como me seguia pela casa e me lambia os dedos quando se estava a lavar, quando encostava o focinho frio ao meu nariz. Adorava vê-la a sonhar.

A saudade já se apoderou de mim.


Adeus Chloe.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

É difícil ver os olhos de quem chora,
Há por fora aquele brilho vidrado, uma tristeza convulsiva por dentro
Um mar que se quer libertar
Parece que não consigo conter as ondas
E que ele me vai estraçalhar.

Por isso não me vejo ao espelho,
Não consigo ver para dentro de mim
A minha visão turva não me deixa

(mas para que quero olhar para mim?!)

Só quero estar longe de tudo
Não, quero estar perto dos siameses
Almas que se unem à minha
Que partilham as dores.

Os golpes acutilantes da vida também nos ferem a nós.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Cansei-me.

Já não sei o que fazer. Tudo me parecia tão fácil ainda à pouco. As coisas fáceis não têm piada, pois não? Carreguei-me de artimanhas, ilusões e desvarios.

Haviam de acabar um dia.


Foi hoje.

Foi hoje que eu me apercebi que as coisas já mudaram há muito tempo.


Eu mudei, mas para quê? Para quem? A mudança parece-me irreversível, ainda não tenho noção dos danos que sofri, estou a experimentar para perceber até onde posso ir.


Desta vez a ferida foi funda, acho que o meu coração tem um rasgo.

Outono

Assim que a primeira gota me tocou estremeci, não estava preparado para aquela sensação repentina de frio localizado, e foi aí que ela escorreu, encostada ao meu corpo, agora morna. Olhei para o lado, as memórias vieram à tona. Pensei nas coisas que me disseste, no que me sussurraste ao ouvido. Quero sentir-me assim outra vez. Estremeço. Dei por mim parado na chuva, com o frio entranhado nos ossos. Aquela gota morna já caiu há tanto tempo. Pego nas minhas coisas: uma caneta e papel (agora molhado).
Sigo pela rua, sempre em frente, não há que enganar embora o meu passo não me diga o mesmo. Cambaleio. As tonturas outra vez. Não consigo estar parado, e vejo agora que também não consigo parar de andar, ainda que tonto e às cegas nesta rua escura e escorregadia. O único consolo que tenho é a presença de alguns, a serenidade tempestuosa que são os meus, os que me escolheram e que eu escolhi. Paro. A tontura ficou lá atrás. Mas vai voltar, volta sempre.

sábado, 20 de outubro de 2007

Transformaste-me.

Procuro um corpo quente
O meu já está gasto e frio,
Concha de pele e sangue
Que antigamente me albergava

Descanso da saudade
Dói-me relembrar aquelas curtas-metragens
Que fiz sozinho
Tu estavas lá

Apesar de não te ver
Apesar de não falares

Parei.


Contive-me
É o mais acertado,
A implosão é mais discreta
Ninguém precisa de saber

No entanto
Ali estás tu

E eu olho
Mesmerizado com a tua presença delicada
Sentido que estás lá
Em todos os gestos e subtilezas

Em todos os objectos que tocaste
Ficou uma aura
Um cheiro
Um sentimento.

E ainda assim procuro um corpo quente
Que me acompanhe,
Que me desperte
Deste frio que me ocupa.

A Refeição.

E o rei de todos os horrores esperava por ela, faminto, sequioso, em nada mais ele pensava, contorcia as suas feições grotescas num esgar indescritível até que a viu chegar envolta nas suas mortalhas...
À medida que os seus sujos e tortos dedos afastavam o tecido as suas órbitas cavadas na cara pareciam brilhar de excitação por trás da sombra da sua testa. Por fim a pele lívida ficou a descoberto, a expressão vazia que ela trazia nada deixava transparecer, ele passou a sua horrível mão pelos caracóis azeviche e pelos roxos lábios...Para que ao cortar a putrefacta carne da pequena rapariga todos os presentes na mesa pudessem apreciá-la uma última vez antes do banquete começar...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Televisão

Mais um cérebro que morre nas mãos duma influência invisível...
Uma mente deturpada e esquecida do calor de um corpo,
Enlouquecida pelas imagens,
Capturada pela inércia de uma forma permanente,
Descontrolada na sua apatia,
Perdida num labirinto que parece nunca acabar,
Essa mente chora sem saber
O corpo sofre sem dar conta,
Ambos anestesiados pela mudança repentina de cores,
Pela voz que vem falar por dentro...