segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tornado.

Estava preso a um poste quando apareceste. Em vez de me soltares ficaste-te a rir de mim. Às tantas o que me prendia soltou-se, agarrei-te pelas entranhas. Estavam vazias. Não tinhas nada contigo, a tua própria presença acabou por se tornar ineficaz, desprovida de sangue. Por instantes as pontas dos nossos dedos tocaram-se, rendi-me aos pedaços de vácuo que oferecias então.
Não, não estava destinado a durar, a fornalha que havia em mim ardeu como mil sóis, acabando por consumir o teu eu cá dentro. Ardi também. E postes à parte, tu, sim, tu. Tornaste-te no vácuo que oferecias, talvez já o fosses, é provável que os meus olhos te tenham alterado.
Há dias em que acordo, podre, ainda sinto o cheiro dos teus olhares furtivos, esperneando no ar que me sufoca.
Posso soar odioso, e sou, mas senti-te tão fundo, deixaste tudo com laivos de insatisfação. Dei-te a minha catarata e tu sonhaste destruí-la, sem te aperceberes que acordada a estraçalhavas. Nesses ataques de falso sonambulismo queimaste-me as pontas, sacrificaste-te dentro de conchas infinitamente pequenas.
Ancorado ao meu desolamento, dormente de suplícios infundados afoguei-me em lava fundente, fraco e fragilizado, fruto de nada e de tudo, contradizendo-me em todas as direcções, ser não sendo. Atingindo a leveza da existência sem dar demasiada importância ao sentido. Divido-me a nível intra-molecular, sub-atómico.
Anatomicamente não faço sentido, a dada altura deixei o meu coração crescer demais. Ao tê-lo feito condenei-me a viver assim, imerso no amor que professo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Torção.

Calma, respira, ontem éramos só nós dois. Trocaram-se sentimentos corrosivos despreocupadamente, olhei-te nos olhos, o mais fundo que pude, a chama vítrea (ainda assim ígnea) levou-me para a frente e para trás. O balanço deixou-me tonto, descompensado, vomitei palavras de amor cerrado. Saíu tão forte e concentrado que te queimou as pestanas. Olhando para mim estupefacta viraste costas, intacta. Que nojo. Vomitei outra vez, desta vez para dentro. Enveneno-me com esperanças vãs.
Enevoado e indeciso, carrego o teu nome como se levasse o mundo às costas. Destruído e descarnado, consecutivamente desencontrado.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

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Ela saiu à rua sem hesitar
Através das sombras
Escombros de outros dias
Faziam-na tropeçar
Do centro da palma da mão
Irrompeu uma luz repleta de intenção
Correu sem destino
Ao fugir da escuridão envolvente
Caiu num buraco
Tornou-se lava fundente.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

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Ao tombar de tempo em tempo,
Gasto e incompleto
Desenrolando o tempo em tempo
Em espuma fina e incapaz,
Leva-se tempo ao tempo,
Que ao tombar liberta de si
Um tempo novo.