quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ciclo

Acordas, esticas um risco de auto-estima e sais de casa, imbuída de confiança, até porque ontem compraste uma camisola genial que te assenta que nem uma luva. Chega o entardecer e aquele risco matinal já se foi há tanto tempo, procuras um bar para rir e trocar promessas falsas de amor, empatia e amizade. Intercalas as mentiras com olhares vazios. Quando cambaleias para casa no teu coma induzido e olhas para o braço que se enrola à volta do teu pescoço apercebes-te que nem sabes o nome dele. Não interessa. Ele é uma pila com pernas, uma dose de conforto físico em forma de ser humano. É o que tu achas uma desculpa perfeita. "Eu preciso de calor", disseste-me tu uma vez, "Não me parece que seja isso" respondi. Viraste costas e desapareceste na sombra de um desconhecido. Enquanto eles te fodem ainda pensas em mim, contas as rachas na parede, a penetração enche-te as entranhas e as paredes estalam mais um pouco, essas linhas que as percorrem ficam ainda mais secas, mais fundas. Levas-te ao limite da consciência, estás dormente, já não há dor que te acorde. Adormeces e os sonhos passam por ti como comboios barulhentos, carregados de vidas que não são tuas. Despertas suada e atormentada, sacodes a cabeça automaticamente, ele não está lá, suspiras de alívio. O sol já se levantou, agora só faltas tu. O risco está lá para ser esticado, não pensas duas vezes, é só mais um dia.

domingo, 30 de março de 2008



















Drop dead gorgeous
That's how you look to me,
Stripping me of my dignity as I watch
Pervertedly defenseless
I put my chest out
To be reached
Nothing comes to me
Negative spaces
Dripping out,
Out of my barely conscious mind

But you'll never know,
I don't even want you to
Or you'd be taking advantage
Not that I don't want to
But that's how these shiny droplets go
The first step is only yours
And the path leads to the cellar door.

terça-feira, 18 de março de 2008

Desconfiguração


Cargas de monstruosas proporções
São o que os olhos levam no peito
Mas ao saltar de olho em olho
Levas as cordas de todos os tempos contigo,
Percebes ao longo de existências infinitamente pequenas
Que as mortes são efémeras,
Cada ser se sobrepõe a outros tantos
E por vezes até os sonhos esmagam os seres

Esmagas a unha contra a lamela
Queres ver mais perto
Perceber que aspecto tens lá dentro
No fundo do ser
No lugar onde residem
Vinte e uma irmãs
Que compõem o acorde final

Mas ao sobreexistir
Sentes a pele bem junto dos orgãos
E estes ao apodrecerem
Carregam as vidas de outros tantos
Para o seu aterro
O lixo do ser

E então eu chamo-as
Vinte e uma vezes
E uma a uma
As irmãs aproximam-se rodeando-me,
Estou pronto para partir
Libertando-as no vento do esquecimento eterno
Deixando no ar a esperança vã de continuar a existir
Na memória do espelho.